Patrícia França Fã Clube

terça-feira, 17 de novembro de 2009

"Os holofotes não chamam minha atenção", diz Patricia França


"Os holofotes não chamam minha atenção", diz Patricia França


Simples, mas guerreira. Assim como Eliana, sua personagem em Luz do Sol, novela da Record, Patrícia França valoriza as pequenas coisas da vida e aproveita o tempo que tem entre as gravações para isso. Entre um gole de café e uma mordida no pão com manteiga, a atriz esquece o "glamour" da televisão e mostra que ainda conserva os mesmos hábitos da menina que, aos 19 anos, deixou o Recife para protagonizar a minissérie Tereza Batista, na Globo. "Comecei fazendo teatro muito cedo, aos nove anos. Minha cabeça é outra. A fama e os holofotes não chamam minha atenção", garante.

Em sua terceira novela na Record em apenas três anos de casa - na Globo, Patrícia permaneceu por 14 anos e trabalhou em apenas seis, uma delas como participação especial -, ela agradece não carregar mais o fardo de encarnar protagonistas. "Cansa muito. Agora tenho bons papéis, mas também consigo viajar, ir ao cinema, brincar com minha filha", explica.

Como é sua personagem em Luz do Sol?
Eu faço a Eliana, uma mulher de hábitos simples que foi mãe cedo e tem um marido pescador. Estou feliz porque é um papel que está envolvido em conflitos, numa trama muito legal. A grande realização dela está na maternidade, e esse é o ponto de partida da história. Ela é carinhosa, protetora, mesmo com a vida sofrida que leva. Acho que esse trabalho vai render bons frutos, porque o marido dela carrega um segredo e não se sabe até que ponto ela é cúmplice. A mulher, no fundo, sempre sabe de tudo. Conhece o cara com quem dorme, convive com aquele homem. Acho que a Eliana no fundo não quer admitir para si mesma aquela realidade, prefere preservar a harmonia familiar. Ela tem um casal de filhos, mas a menina morre. A filha foi substituída pela Adriana e a Eliana passa a chamar a criança de Rosa, nome da menina morta, e a depositar na substituta a falta que sente da filha morta.

Como você, que é mãe de uma menina de seis anos, avalia o comportamento da Eliana?
Para uma mãe, deve ser uma perda irreparável ver uma filha morrer. Não consigo me colocar nessa situação, mas acho que uma mãe como ela nunca se recuperaria. É difícil avaliar o que ela sente, mas essa nova criança vem para suprir essa perda. Isso faz com que ela se apegue demais, de uma maneira até autodestrutiva. Nem a diferença física entre a criança e a família faz ela cair na real. A menina é muito diferente, loura e de olhos azuis. É como se esse "detalhe" não existisse e ela realmente tivesse substituído o amor. É meio louco, mas é coisa de mãe.

Com a passagem de tempo de 1991 para os dias atuais, os filhos de Eliana aparecem adultos. Não é estranho interpretar a mãe de duas pessoas tão crescidas?
Acho isso muito legal. Eu estou com 35 anos e essa é uma das abordagens da Ana Maria Moretzsohn que eu acho mais válidas. Minha irmã tem 30 anos e uma filha de 14. A autora vai falar sobre isso no texto. A idéia é mesmo mostrar uma mulher despreparada, inexperiente, que age por puro instinto. Então a pequena diferença de idade é possível. Isso vai ser explicado aos poucos. Não posso negar que é engraçado, porque o Eduardo Pires, que interpreta Vicente, o filho mais velho, tem 26 anos. Mas na história ele tem 20.

Essa é sua terceira novela na Record. Qual é o seu balanço?
Muito positivo, mas não esperava isso. Na verdade, vivo o momento. Na época em que fui chamada, era propício investir nisso. O ator brasileiro não pode escolher. Invejo aqueles que administram suas carreiras e chego até a desconfiar deles. Eu vou de acordo com as oportunidades. Avalio, vejo até que ponto posso ser feliz com aquilo e vou em frente.

O que fez você aceitar o convite para A Escrava Isaura, sua primeira novela na emissora?
A possibilidade de fazer uma vilã como a Rosa. Vi a reprise da primeira versão. Mas, mesmo assim, ainda era muito criança. Lembrava-me de algumas cenas e da competência da Léa Garcia ao dar vida à personagem. A imagem dela fazendo aquela escrava me fez pensar que era um papel que daria pé. Foi muito bacana, me diverti e diverti também os meus colegas fazendo. Foi um divisor de águas na minha carreira.

Por que você sente isso?
Descobri o meu humor a partir daquele trabalho. Não que eu fosse uma pessoa triste, mas encontrei uma veia cômica em mim até então muito pouco explorada. Isso é muito bom para um ator. A comédia é sempre o melhor lugar, tanto na vida quanto na arte. Foi diferente de quando me chamaram para Prova de Amor. Minha primeira reação foi o receio.

Do que você tinha medo?
Comecei enxergando a personagem com preconceitos. É que no Brasil a gente tem tantos exemplos ruins na polícia, isso me deixou tensa. Mas o Tiago Santiago falou comigo e disse que a idéia era mostrar uma policial do bem, e existem várias por aí. Mas me incomodou ter de segurar uma arma. Sempre tentava tratar a cena com muita ética, evitando violência. Mas esse receio acabou quando li a primeira cena, no primeiro capítulo. Tinha um tom de série americana, e isso começou a me entusiasmar. Além disso, não faço muitos personagens urbanos. No final, acabou sendo um trabalho enriquecedor sob vários aspectos. Sem dúvida, foi o personagem que mais me deu trabalho, mas por minha própria vontade. Cheguei a fazer três aulas de karatê para uma cena. Eu pedia esse suporte, queria fazer bem feito. Também tive aulas de defesa pessoal e de como manusear uma arma.

Qual foi sua sensação ao saber que a proposta da Record de criar um seriado com os policiais de Prova de Amor não sairia do papel?
Ah, foi muito frustrante. Queria ter feito a série, acho que seria muito legal. A gente sempre cria um vínculo com o personagem e a Diana era bem recente. Além disso, seria uma comprovação de que foi um sucesso. Criei uma expectativa. E é sempre melhor fazer série ou minissérie. É mais gratificante, menos desgastante e um trabalho mais cuidadoso. Não sei o que houve, mas a Record ainda está investindo em novelas. Até certo ponto, a decisão foi sábia. O crescimento desordenado é ruim. Em pouco tempo eles conseguiram muito e isso já é assustador.

Quando você estreou na televisão, protagonizou a minissérie "Tereza Batista". Isso te assustou?
Isso não fazia minha cabeça. Queria fazer direito o papel, não me ligava nessa coisa de virar estrela. Eu vim do teatro, é uma outra cabeça. Pensava só no trabalho. Acho que essa humildade acabou me ajudando dentro e fora da emissora. A maneira como lidei com tudo isso numa cidade grande, longe da família, foi a mais madura possível. Foi difícil, as circunstâncias por trás me assustaram. Eu tinha 19 anos e nunca tinha me afastado da minha família. De uma hora para a outra, estava na tevê, nos jornais...

Como isso aconteceu?
O teatro sempre fez parte da minha vida, desde criança. Sou do tempo em que a gente fazia teatro na escola. Aprendia artes no palco. Tudo começou aí. Fazia teatro na escola desde os nove anos e ingressei num curso de teatro profissional aos 13 anos. O meu teste para "Tereza Batista" foi feito em Recife. O diretor queria alguém que pudesse fazer as duas fases e que tivesse sotaque. Aí me acharam. Antes de fazer o teste, e aí é que está a grande diferença, o diretor foi me ver num espetáculo. Ele pediu para me cumprimentar no camarim. Ele me viu e, como eu era muito novinha, ficou receoso por causa da idade. Quando ele entrou, eu estava colocando um batom escuro. Terminei a maquiagem e virei o rosto. Ele gostou tanto daquele movimento que virou uma cena da minissérie que foi inclusive para a abertura. Ela está no espelho, coloca o batom e se vira.

Foi difícil lidar com a fama?
Foi complicado no início. Não entendia que precisava usar uma máscara, sair de casa sempre com um sorriso pronto. Acho que todo mundo tem uma dose de timidez, e não fujo à regra. Essa foi uma barreira minha, mas pouco tempo depois eu percebi essas coisas e acabei me acostumando. Só estava habituada ao teatro.

Nenhum comentário: