Patrícia França Fã Clube

sexta-feira, 16 de março de 2012

"Nunca fiz filhinha na TV", diz Patrícia França

Reportagem:novembro de 2004

Patrícia França pensou muito antes de topar fazer A Escrava Isaura, da Record. A atriz lembra que o diretor Herval Rossano foi até bastante paciente com ela durante as longas negociações para fazer parte do elenco da novela. Patrícia conta que precisou pesar prós e contras antes de assinar o contrato com a emissora para viver a antagonista Rosa.



"Tive de deixar minha cidade, minha filha e meu marido. E isso não é muito fácil, ainda mais de uma hora para outra", confessa. Patrícia garante que até já se acostumou com a rotina de viver na ponte-aérea entre Rio e São Paulo. E não se arrepende da decisão. "Mesmo passando a semana longe da minha família, o esforço está sendo compensado. Está sendo um prazer viver a Rosa", avalia.






Na pele de sua terceira vilã na televisão - a atriz também interpretou a malvada Clarice, em Suave Veneno, e Blanca de Sevilla, em A Padroeira, da Globo -, Patrícia garante que não tem preferência entre viver a mocinha ou a vilã. "Só quero mesmo é ter prazer na hora de atuar, independentemente da personagem", pondera. A atriz acrescenta também que, ao longo da carreira, está sempre interpretando mulheres fortes e independentes na telinha. "Nunca fiz papel de filhinha de ninguém. Pelo contrário, todas as minhas personagens têm sempre uma de forte carga dramática", valoriza.






Empolgada com a nova "casa" - o último trabalho foi uma pequena participação em Chocolate com Pimenta, da Globo -, Patrícia acredita que a iniciativa da Record, de criar um novo pólo de teledramaturgia só traz benefícios para profissionais e atores. A atriz não esconde que é preciso ampliar o mercado de telenovelas e aumentar a concorrência. "O monopólio não faz bem para ninguém. Acho que a emissora está no caminho correto e tem tudo para dar certo", aposta.






Você ficou com medo de aceitar o convite da Record, depois do fracasso de Metamorphoses?


Vou onde o trabalho estiver. Se o trabalho é legal, tem gente competente envolvida, se a história é boa e se o personagem for bom, eu estou lá, independentemente de onde seja. Eu vou de corpo e alma, seja cinema, televisão ou teatro. O que a gente precisa é trabalhar. Como a gente vive num mercado extremamente competitivo, não dá para ficar rejeitando propostas de trabalho. É importante destacar também que é ótimo a Record querer se estabelecer como um novo pólo de produção de telenovelas. Não podemos contar apenas com uma emissora como a única representante do mercado de teledramaturgia. É preciso acabar com o monopólio, porque ele existe e é real. Além disso, é necessário oxigenar mais o mercado, criar novas oportunidades de trabalho para os profissionais.






Na primeira versão, a luta pelo fim da escravidão era usada também como uma maneira de se falar da opressão vivida durante a época da ditadura militar. Que ponto você destacaria de mais importante nessa nova versão?


Sou uma representante quase branca da raça negra e acredito que mostrar o cotidiano sofrido das senzalas foi um dos motivos para aceitar o convite. Acho importante que a gente se lembre disso na novela, que trata dos sofrimentos dos negros. E a Rosa toca nas feridas da escravidão. Ela quer mostrar a mancha que a humanidade criou. Acho que isso é bem legal, pois nos faz refletir e lembrar como os escravos eram tratados na época ao longo de uma história de humilhação. A gente fica horrorizado hoje em dia, mas era uma realidade.






Qual avaliação você faz da Rosa?


Ela é o oposto da Isaura. Enquanto ela é a ternura em pessoa, apesar de todo sofrimento, a Rosa é ardilosa, oportunista e que não aceita o fato de ser quase tão branca quanto a Isaura e não ter tido a mesma oportunidade que ela na vida. Mas o que eu acho mais interessante em interpretar a Rosa é que ela está sempre ali entre os senhores lembrando o quanto é difícil a vida daquelas pessoas que vivem nas senzalas, na escravidão. Ela é muito revoltada. Acho que o público está se surpreendendo um pouco de me ver tão má. Além disso, o que acho mais interessante na personagem é que ela é uma pessoa extremamente inconformada, que está sempre cutucando as feridas daquela sociedade. Ela mostra como é difícil viver ali, cercada de injustiças. Acho muito interessante a personagem sobretudo por isso tudo, porque ela está ali para lembrar todos os desmandos dos senhores de escravos. Além disso, ela ainda tem um ar de deboche e ironia bem elevado.






É a sua terceira vilã na televisão. Dá mais prazer interpretar uma vilã?


Fazer ou não uma vilã não importa. Cada personagem tem sua história, suas dificuldades e características. Não que seja mais interessante fazer uma vilã. Acho que existem mocinhos maravilhosos, como foi o caso da Maria Santa em Renascer, da Globo, que foi lindíssima de se fazer. Tudo está realmente no personagem. Se for bom, vai ser legal de se fazer. A Rosa está sendo maravilhosa, porque é uma personagem bem-escrita. Eu consigo me divertir muito fazendo a Rosa. É aquela coisa: quando a gente sente prazer, não importa o que está fazendo. Além disso, a Rosa é uma pessoa amarga, que até tem motivos de ser realmente má. Já a Blanca de Sevilla, a vilã que interpretei em A Padroeira, da Globo, que também era uma novela de época, fazia as maldades para se dar bem na vida.






Você chegou a tomar alguns cuidados para compor a personagem de Rosa?


O que me preocupou num primeiro momento era como a Rosa iria falar, se expressar como uma escrava. Mas eu fui buscar no próprio texto do Thiago Santiago, porque ele já escreve da forma que vamos falar. Ou seja: eu falo conforme está escrito, como "ocê", "dançano", "tumem", por exemplo. A maneira e os trejeitos de interpretar, porém, eu me inspirei na minha empregada. Mas não esse lado mau, é claro, porque ela é uma pessoa muito boa. Além disso, eu fui "pegar" um pouco da maneira dos meus familiares de Recife, que têm esse despojamento, já que o nordestino tem essa maneira de ser bastante despojada no viver. Busquei todos esses elementos e fui juntando como se fosse uma colcha de retalhos para dar vida à Rosa.






Você chegou a assistir à primeira versão quando foi exibida em 1976, na Globo?


Tenho 33 anos e na época eu era muito pequena. Mas guardo algumas lembranças de coisas da minha infância que são muito próximas. Eu me lembro, por exemplo, de alguns lances quando foi exibida pela primeira vez, de algumas cenas. Além disso, desde pequena eu assistia a muita novela e isso acaba fazendo com que a gente se lembre um pouco. Mas me recordo realmente bem de quando ela foi reapresentada no Vale a Pena Ver de Novo, quando eu já era maiorzinha. Acho que consigo lembrar porque sempre gostei muito de novela. Então eu me recordo do trabalho do Rubens, da Lucélia e de algumas coisa da própria Rosa.






Lembrar da primeira versão ajudou na hora de compor o personagem também?


É uma nova adaptação e que não tem nada a ver com a primeira. Temos novos personagens, novos núcleos e novos finais para alguns personagens. A própria Rosa era uma negra de verdade na primeira versão. A Rosa de agora, porém, é muito mais forte. Ela emana um certo poder que não existia na versão da Globo. Até pelo fato de não ser negra, ela consegue trilhar um caminho diferente. Mas lembrar da antiga versão é uma forma de remeter-se ao passado e acaba ajudando, embora as duas Rosas sejam completamente diferentes.






Além da televisão, você já tem algum projeto agendado para voltar ao teatro e ao cinema?


Pretendo voltar aos palcos no ano que vem e já tenho até um texto pronto para encenar. Mas depende de vários fatores, como patrocínio, por exemplo. No cinema, que é um tipo de trabalho que todo ator quer fazer, ainda não pintou convite nenhum até o momento. Sei que é difícil de ser convidada, mas aguardo ansiosa voltar à tela grande. O que acontece, porém, é que estão sempre escalando os mesmos atores. Acaba sendo uma grande "panelinha", o que me deixa um pouco chateada com essa situação. Mas tenho boas recordações de Orfeu, por exemplo, onde interpretei a Eurídice e que me rendeu boas críticas como atriz. Uma obra de Vinícius de Moraes, baseada em uma tragédia grega e dirigida pelo Cacá Diegues: não posso me queixar e até me considero uma privilegiada. Mas a gente quer sempre mais e, por isso, estou esperando novos convites.






Morena brejeira


Patrícia França pode ser considerada uma atriz de sorte. Com um perfil que se enquadrava perfeitamente na sua personagem de estréia, Patrícia foi escalada para viver a protagonista da minissérie Tereza Batista, da Globo. A atriz garante que o fato de estrear logo com um papel principal fez com que ela também amadurecesse mais rapidamente como pessoa. "De uma hora para outra a minha vida mudou. Mas foi ótimo encarar o trabalho de atriz, que eu sempre sonhei na minha vida", lembra.






O amadurecimento pessoal, porém, não interferiu no ar brejeiro e jovial de Patrícia. O jeito de menina também fez com que a atriz ficasse associada ao perfil de mocinha sofredora, como as personagens de Maria Santa, em Renascer, e de Cláudia, em Sonho Meu, primeira novela em que viveu uma protagonista. "Foram ótimas experiências e me proporcionaram um crescimento profissional", avalia.






Mas a atriz não deixou que o "rótulo" de boa-moça ficasse realmente impregnado na sua trajetória na telinha. A virada, porém, aconteceu em Suave Veneno. Em seguida, Patrícia novamente viveu a vilã Blanca Sevilla, em A Padroeira. "Além das vilanias, ela também tinha um lado bem sensual", recorda.





Interpretações musicais


Patrícia França considera a música fundamental na sua vida e confessa que a paixão pelo canto acabou rendendo frutos na sua carreira de atriz. Mesmo não sendo uma cantora profissional, a Patrícia já se arriscou a soltar a voz em espetáculos musicais no teatro.






A estréia foi em A Ver Estrelas, com direção de João Falcão e com a participação do conjunto musical Quinteto Violado. "Eu recitava poemas e contava com a participação do grupo. Foi meu primeiro espetáculo musical", recorda, acrescentando que a temporada acabou se transformando em disco, lançado em 1993.






Empolgada com a repercussão positiva, Patrícia não se intimidou em novamente participar de outros espetáculos musicais. Foi o caso de Aladim e Péricles, dirigido por Marcelo Sabak e Ulysses Cruz, em que a atriz novamente soltou a voz. Mas, dessa vez, Patrícia cantava em latim. Logo em seguida ela também cantou em Peer Gynt, com direção de Moacir Góes. "Foram trabalhos gratificantes na minha carreira, que me possibilitaram aprimorar esse meu lado musical", confessa.






Patrícia recorda também que na televisão já interpretou personagens que também chegaram a cantar. A primeira oportunidade dos telespectadores de conferirem um pouco da versatilidade da atriz aconteceu em Renascer, quando Patrícia soltou a voz no final da novela. Ela cita também a personagem de Lucilene, uma cantora de cabaré na trama O Fim do Mundo. "Foi engraçado, porque as pessoas não sabiam que eu também cantava e puderam ver esse meu outro lado artístico", avalia.






Mesmo com talento musical, a atriz garante que não pensa em gravar um disco com repertório próprio. Patrícia revela que apenas tem vontade de montar um novo espetáculo musical. "Tenho muita vontade de interpretar uma cantora no teatro", confessa.




Fonte:exclusivo.terra.com.br